Como falar com os filhos sobre sexo?

menino da beijo a menina na bochecha

A resposta a esta pergunta é bem mais simples do que a análise que nos merece a frequência com que ela surge. Tantas vezes foi feita e respondida que aparentemente parece estranho que a interrogação não se esgote. A verdade é que as respostas que propomos não anulam as motivações que as mães e os pais têm para a fazer. Trata-se de uma questão que tem subjacente sentidos e contextos ocultos que residem na forma como pensamos e sentimos a sexualidade humana, as relações familiares e a infância.
 
Em primeiro lugar a sexualidade humana ainda é um tema sobre o qual é difícil falar devido a uma educação “tabuizante”, que leva muitas vezes ao embaraço que as pessoas sentem quando são solicitadas para o abordar. Perante estas situações incómodas, a fuga é frequentemente uma solução adoptada nas respostas- “...isso não é assunto para a tua idade”, ou  “...vai perguntar ao teu pai”, ou ainda “...na escola não te ensinaram essas coisas?”. Outras vezes a fuga é mais subtil quando se responde falando das plantas e dos insectos ou pássaros a perguntas que são claramente sobre a sexualidade das pessoas.
Por outro lado, a sexualidade é um tema que dificilmente conseguimos perspectivar de uma forma abstracta e distanciada. Ela faz parte da vida quotidiana de todos nós e nem sempre se consegue separar o “falar sobre sexualidade” do “falar sobre a nossa sexualidade”. É necessário perceber que responder a uma questão colocada por um filho não implica nem deve implicar cedências na nossa intimidade e privacidade. Alguns pais/mães referem o receio de se exporem em demasia perante os filhos enquanto outros deixam transparecer um medo de que os filhos cresçam cedo demais ou “percam a inocência ao saber mais sobre sexo”, como se de alguma forma, dar-lhes respostas contribuísse para que eles adoptem comportamentos sexuais mais cedo ou  construam a sua intimidade, privacidade e autonomia mais rapidamente, afastando-os dos pais.
 
Podemos afirmar que nunca as relações entre pais/mães e filhos foram tão estreitas e afectuosas como agora, mas muitas vezes confundimos afecto com superprotecção, e o investimento no amor e carinho tem sacrificado nos nossos filhos o desenvolvimento da autonomia e da capacidade de tomar decisões e fazer escolhas. Temos agora a ilusão de viver num mundo repleto de riscos e perigos, e a ideia que temos da sexualidade parece estar contaminada por este cenário. Pensamos em sexualidade e associamo-la a doenças, disfunções sexuais, cuidados a ter para evitar gravidezes indesejadas ou a parafilias (p.ex. pedofilia). Existe portanto uma imagem negativa da sexualidade que urge combater. Viver implica riscos mas não faz sentido definir a vida com base nos perigos que ela pode transportar- a SIDA está para a sexualidade como a gripe está para a respiração, e não é por haver gripe que respirar é negativo. Nas respostas que damos às crianças e adolescentes devemos ter sempre presente que a sexualidade é algo positivo e que envolve sentimentos, emoções, comunicação, afectos, desejos e prazer; e que para a vivermos duma forma mais plena devemos aprender a dizer sim a comportamentos desejados, não aos indesejados, dispor de informação adequada e de meios para prevenir os problemas que podem sempre surgir.
 
Muitos pais /mães têm a ideia que o que dizem às crianças as molda e orienta de uma forma quase determinista. Hoje os agentes de socialização são múltiplos e por vezes com mensagens contraditórias, mas se os pais/mães forem proporcionando aos seus filhos, através do afecto, uma autonomia cedida de forma progressiva, estes irão construindo a sua personalidade, sabendo fazer as suas próprias escolhas em autonomia e de uma forma responsável.
 
As respostas às questões que as crianças colocam devem pois ser respondidas sempre com a verdade, já que uma vez que feita a questão é porque a criança que a faz está preparada para ouvir a resposta- esta é o próximo degrau a subir no seu processo de aprendizagem; a linguagem utilizada deverá ser clara e adequada à idade da criança e ao seu grau de desenvolvimento; e as respostas limitadas ao que é perguntado- deixando a criança assimilar a informação e elaborar a questão que se segue. Assim, a atitude dos pais/mães será mais reactiva do que impositiva, contribuindo para as crianças/ adolescentes possam sentir neles a disponibilidade e o interesse pelas dúvidas e problemas que os podem assaltar.
 
 

Fonte

António Filhó (sociólogo)