Famílias monoparentais

Mãe conversando com a filha

Cada vez mais em Portugal, por situação de divórcio, falecimento ou por opção própria, existem famílias consideradas monoparentais. Estima-se que em Portugal o número ultrapasse as 350 mil famílias e o número tende a aumentar.

Apesar de existir a crença comum de que o pai ou mãe que fica com o jovem à sua responsabilidade consegue fazer o papel de pai e mãe simultaneamente, tal não é possível.

Na vida psicoemocional da criança/jovem existe lugar para uma figura de referência masculina e uma feminina e ambas têm a sua importância e papel no seu desenvolvimento. Muitas vezes este papel é representado por um avô/ó ou um tio/a mas é essencial que exista, para um desenvolvimento emocional mais estável do jovem e também uma maior partilha daquilo que são as responsabilidades emocionais do pai ou mãe que tem o jovem a seu encargo. Com isto não está garantido que o jovem abra linhas de comunicação totais com as suas figuras de referência, até se pode dizer que aquando da sua entrada na adolescência se crie alguma distância e reserva na partilha das suas questões mais pessoais.

Não é suposto os pais e mães serem os melhores amigos dos seus filhos adolescentes. O papel social de pai/mãe e de amigo são muito diferentes e por vezes incompatíveis, e por muito difícil que seja para os pais entenderem que contrariamente à fase da primeira infância onde as crianças tendem a partilhar tudo do seu dia e da sua vida emocional, na adolescência o cenário inverte-se quase totalmente. Esta tendência é ainda mais marcada nas famílias monoparentais onde muitas vezes o pai ou a mãe cai na tentação de sobrecompensar o pouco tempo que tem disponível ou o facto de não existir o outro progenitor com uma necessidade de ser “amigo” do seu filho ou filha.

Esta distância que o adolescente gera, não acontece necessariamente porque existem problemas com o jovem, mas simplesmente porque o seu desenvolvimento psicoemocional dita que tem de haver um distanciamento emocional dos pais para que possam ser criadas estratégias de autonomia no jovem. O papel mais difícil dos pais é manterem-se disponíveis sem aumentar os seus próprios níveis de ansiedade, mais ainda quando não há outro pai para partilhar o fardo e muita vez a ansiedade de se sentir o jovem a crescer e a ganhar o seu espaço no mundo.

Independentemente disso, o jovem, de forma consciente e inconscientemente sabe sempre que quando for necessário, recorrerá sempre às suas figuras mais significativas.

É importante que os pais entendam que, manterem a comunicação com os seus filhos adolescentes não é apenas repreendê-los pelas suas acções ou avisá-los dos perigos ou ameaças que o mundo traz. Comunicar pressupõe uma partilha de ideias e valores, sem julgamentos ou juízos de valor. E isso terá de se aplicar às duas partes, filhos e pais. Isto é especialmente importante nas famílias monoparentais onde há uma tendência muito maior do pai ou mãe em se centrar demasiado no bem estar do filho/a, tentando antecipar todos os problemas que poderão surgir e tentando resolvê-los pelo jovem, impedindo assim o desenvolvimento da tolerância à frustração, tão importante no processo de autonomia dos jovens.

Fonte

Mónica Mexia - psicóloga no DICAD Algarve