Novas Famílias

menino com as maos no queixo

A família não foi sempre a mesma coisa, é uma realidade dinâmica em constante evolução. É socialmente construída e por isso subsidiária dum determinado contexto sócio-cultural. A família muda, acompanhando a mudança social.

Hoje não há um modelo de família. Temos as famílias monoparentais, as alargadas ou as nucleares, as famílias reconstruídas, as que optam por ter muitos ou nenhum filho. Há os que casam e os que optam por uma união de facto.
 
A família é plural e a diversidade é uma marca da modernidade. Esta é a verdade quer o desejemos ou não.
Hoje não é necessariamente o casamento que funda uma família. E este já há muito tempo que deixou de ser um contrato celebrado entre duas famílias, para unir patrimónios e onde a reprodução biológica representava a forma de os fazer passar à geração seguinte. Hoje o casamento ou a união de duas pessoas tem essencialmente como motivação um afecto erotizado, e a sua manifestação na necessidade de estar junto de quem gostamos desenvolvendo um projecto de vida em comum. Seria, então, justo continuar a vedar esse projecto a quem gosta de pessoas do mesmo sexo?

Mas não podem os homossexuais desenvolver essa vida em comum sem serem casados? Podem e já o fazem. E os heterossexuais também podem fazê-lo sem casarem ou casando. Não poderão os homossexuais ter também as duas opções?

O que importa é que as pessoas se sintam bem na sua família e com os que a ela pertencem. A família é hoje este espaço de afectos onde nos sentimos confortáveis e, enquanto assim for, aquilo que a família é o que não é será sempre definido pela forma como nos sentimos nela.

Neste contexto, o que nos deverá perturbar é que uma criança venha a perguntar: “ Se a família é um espaço de amor e conforto porque é que na nossa eu não encontro nada disso?”

Perguntas do género “Porque é que o Manuel tem duas mães?”, “Para ter uma família não é preciso ter sempre um pai e uma mãe?” ou “Porque é que há homens que casam com outros homens?” podem ter respostas rápidas, simples e concisas como: “Porque o Manuel vive com duas mulheres que gostam uma da outra e que gostam e cuidam dele.”; “ Não, há muitas famílias que não têm filhos e outras onde só há o pai ou a mãe ou avós.” ou “ Porque há homens que gostam de outros homens e decidem casar e viver com quem gostam.”

Por vezes, é difícil libertarmo-nos dos valores e preconceitos que fomos adquirindo na familiarização com uma determinada paisagem social que parece mudar debaixo dos nossos pés. E se uns se interrogam sobre “Como poderemos integrar os nossos filhos numa nova realidade social na qual nós próprios não nos sentimos integrados?”, outros ainda insistem em querer integrar os filhos numa “verdade” que já não existe. A dificuldade que muitas pessoas sentem acerca do modo como deverão responder a estas questões e o pressuposto de que as perguntas que as crianças virão a fazer aos seus pais e educadores serão aquelas e não outras, revelam essencialmente os seus medos e preconceitos.
 

Fonte

In António Filhó, sociólogo e presidente da Delegação do Algarve da Associação para o Planeamento da Família in Diário de Notícias, Notícias Magazine, em 23 de Janeiro de 2010