Cuidados ao Bebé Prematuro

A ida do bebé prematuro para casa é uma altura muito desejada pelos pais, mas também é fonte de ansiedade e insegurança. É fundamental que os pais se sintam confiantes nos cuidados ao bebé, de forma a promover o estabelecimento de relações afectivas e a facilitar a adaptação da criança à família. Os pais devem lembrar-se que o bebé apenas tem alta da Unidade quando os profissionais acham que ele está apto a tal e devem ter confiança neste juízo.

Quais as particularidades de um bebé prematuro?
O bebé prematuro é aquele que nasce antes das 37 semanas de gestação. É um ser mais vulnerável, que necessita de ajuda em vários aspectos para que possa crescer e adquirir maturidade. Geralmente, quanto mais precoce for o nascimento, maiores serão as necessidades de cuidados especiais e maior é o risco de complicações. Seguem-se alguns cuidados especiais que os prematuros necessitam:
- incubadora ou berço aquecido pela sua incapacidade em manter a temperatura;
- catéteres nas veias para administração de medicação e, por vezes, de alimentação;
- aparelhos com oxigénio para ajudar a respirar;
- sonda na boca para a alimentação;
- monitorização cuidadosa do funcionamento do coração e da respiração;
- cuidados particulares de higiene, pois é muito susceptível às infecções.

Relação entre os pais e o bebé
O nascimento de um bebé prematuro traz angústias e ansiedades aos pais que muitas vezes se culpabilizam por este acontecimento. É um bebé pequenino e frágil que está a distancia do bebé imaginado pelos pais e que se encontra num local estranho ao cuidado de pessoas desconhecidas.
É de extrema importância reforçar o estabelecimento de um vínculo afectivo entre os pais e o bebé, ainda durante o internamento. Desta relação, resultam benefícios para todos. A voz e o toque da mãe que o bebé tão bem conhece tranquilizam-no e ajudam-no a travar a sua batalha pela sobrevivência. Uma das estratégias adoptadas é o método “canguru”, em que, existindo estabilidade clínica, o bebé despido é colocado no peito dos pais, de forma a reforçar a relação afectiva. É também importante que desde cedo os pais sejam envolvidos nos cuidados ao bebé, nomeadamente na higiene.

Alimentação
O leite materno é o melhor alimento para o bebé: protege-o de múltiplas doenças, nomeadamente das infecções e alergias, e é o alimento nutricionalmente mais adequado às suas necessidades. Favorece o estabelecimento da ligação afectiva entre a mãe e o bebé, a qual é de extrema importância para o desenvolvimento físico e emocional do recém-nascido.
O bebé prematuro pode apresentar-se mais sonolento, havendo necessidade de o acordar e estimular para mamar. Tem também maior dificuldade na coordenação da sucção-deglutição, pelo que necessita de mais ajuda e tempo nas mamadas.
É fundamental o correcto posicionamento da mãe e do bebé durante a amamentação. O bebé deve ser colocado com a barriga virada para a barriga da mãe de forma a que não tenha de virar o pescoço. Ao ser colocado à mama, a mãe deve estimular o seu reflexo de procura tocando-lhe na face com o mamilo. Uma pega correcta é imprescindível para que o bebé consiga retirar adequadamente o leite e prevenir o aparecimento de fissuras nos mamilos. Para tal, o bebé deve apanhar parte da aréola da mama e não chuchar apenas no mamilo. A boca do bebé deve estar bem aberta, o lábio inferior voltado para baixo e o nariz encostado à mama.
As mamadas podem ser prolongadas pelo que a mãe deve estar numa posição confortável, sendo por vezes necessário recorrer a várias almofadas, num ambiente tranquilo. Deve ter água perto de si, pois o dar de mamar provoca sede e beber água ajuda o estabelecimento da lactação.
Ao prestar apoio, o pai tem um papel extremamente importante para o estabelecimento da amamentação, sendo esta uma preciosa oportunidade de participar nos cuidados à mamã e ao bebé.
Por vezes, os bebés prematuros têm dificuldade em mamar e não conseguem retirar da mama leite suficiente. Pode ser necessário que a mamã retire leite com uma bomba e dá-lo ao bebé. É preferível o uso de um copinho relativamente ao biberão, pois se ele se habituar à tetina pode ter posteriormente dificuldade de adaptação ao mamilo.

O tempo das mamadas é variável de bebé para bebé, salientando-se que o bebé prematuro é habitualmente mais lento a mamar que os outros bebés. Se o bebé adormece frequentemente na mama, deve ser estimulado para que continue a mamar, esfregando as costas ou apertando os pezinhos. Deve esperar-se que o bebé solte a mama, sinal de que está saciado.
A frequência das mamadas é também diferente consoante os bebés devendo efectuar-se um horário livre nas mamadas. Geralmente os bebés mamam entre 8 a 12 vezes por dia. Nos primeiros tempos, se os bebés dormem por períodos superiores a 4 horas devem ser acordados para mamar.
Existem vários sinais de que o bebé está a mamar adequadamente: o ruído do bebé a engolir o leite, urinar várias vezes ao dia uma urina de cor clara e aumentar bem de peso.
Depois da mamada, o bebé deve permanecer alguns minutos com a cabeça mais elevada que o corpo de forma a soltar algum ar que possa ter engolido (“arrotar”). Nem todos os bebés arrotam, mas é importante que se seja colocado nesta posição para evitar que bolce.

Ferro e vitaminas
O nascimento prematuro de um bebé não permite que se dê a normal acumulação de ferro e vitaminas que decorre normalmente no final da gestação. Assim sendo, é frequente que os bebés prematuros tenham défice de ferro e vitaminas. Estes devem administrados sob a forma de suplementos de forma a prevenir estes défices.
O ferro deve administrado preferencialmente fora das mamadas para uma melhor absorção. Os bebés que são medicados com ferro apresentam fezes mais escuras e moles; esta reacção é a esperadReanimação de bebé engasgadoa e não deve preocupar os pais.
Na administração destes suplementos devem ser seguidas as orientações do pediatra que segue a criança.

Engasgamento
Pela dificuldade em coordenar a sucção, deglutição e respiração, o prematuro engasga-se com maior frequência. Assim, durante as mamadas devem fazer-se pausas para que possa arrotar (colocando-o em pé no colo).
Em caso de engasgamento, deve elevar-se a cabeça do bebé e deixá-lo tossir. Ele vai conseguir resolver sozinho o engasgamento.
Raramente poderá deixar de tossir ou emitir qualquer som. Neste caso, devem efectuar-se ciclos de 5 pancadas nas costas, alternadas com 5 compressões no peito.


Se não conseguir resolver rapidamente a situação, deve chamar-se imediatamente o 112.

Refluxo
Pela imaturidade do sistema gastro-intestinal, os bebés prematuros pode bolçar mais. Podem ser tomadas algumas medidas para diminuir o refluxo, como colocar o bebé a arrotar após as mamadas, minimizando a mobilização logo após a refeição e deitando o bebé com a cabeça mais elevada.

Higiene
O bebé prematuro tem uma pele mais delicada, portanto poderá ser necessário mudar a fralda com maior frequência de forma a prevenir o aparecimento de assaduras.
- Mude a fralda após cada dejecção do bebé.
- Use preferencialmente compressas macias ou discos de algodão molhados em água morna ou leite de limpeza para a limpeza do rabinho.

Banho
- Prepare tudo o que precisa antes de pegar no bebé: tolha, cremes, fralda, roupa, água na banheira, gel de banho. Verifique que a temperatura da água é adequada.
- Tenha em atenção a temperatura ambiente.
- O banho deve ser rápido para que o bebé não arrefeça, mas sempre em segurança.
- O bebé deve ser cuidadosamente seco, tendo particular atenção às regiões das pregas.
- O banho deve ser um momento de prazer para o bebé e para os pais.

Roupa
- A roupa do bebé deve ser de algodão e confortável.
- Deve usar detergente adequado a bebés ou sabão neutro. Não utilize amaciador de roupa.
- Remova as etiquetas da roupa e lave antes de o bebé a vestir pela primeira vez.

Temperatura
Os bebés prematuros têm dificuldade em regular a sua temperatura, devendo ter-se atenção para que não arrefeça, nem aqueça demasiado. Deve observar-se a cor da pele e tocá-la de forma a perceber se o bebé está com frio ou, pelo contrário, sobreaquecido.

Choro
O choro é a forma que o bebé tem de comunicar. Existem vários motivos que levam o bebé a chorar: fome, fralda suja, sono, desconforto, cólicas, dor, excesso de estimulação (alguns prematuros são muito irritados).
Assegure-se de que as necessidades básicas do bebé estão satisfeitas: está alimentado, com fralda limpa e confortável.
Em caso de cólicas, é importante que os pais mantenham a calma. Deve-se envolver o bebé com uma mantinha ou abraçá-lo, mantendo contacto pele a pele, caminhando com ele. Poderá ser útil uma massagem circular na barriga no sentido dos ponteiros do relógio. Se o bebé for obstipado poderá ficar mais aliviado se se efectuar estimulação rectal com a ponta de um microclister vazio à qual se retirou conteúdo e a base.

Sono
O prematuro dorme mais que um bebé de termo, diminuindo as oportunidades de interacção com a família e dificultando a amamentação. É necessário respeitar os períodos de sono de bebé, devendo-se acordá-lo nos primeiros tempos se passou muito tempo sem mamar. Devem aproveitar-se os momentos em que está a acordado para o estimular: falar, cantar, ler-lhe, mudá-lo de posição, massajá-lo e dar-lhe liberdade para se movimentar.

Prevenção de infecções
Pela sua imaturidade o prematuro é mais propenso a infecções, as quais poderão também ser mais graves. Assim devem tomar-se algumas medidas de forma a evitá-las, tais como:
- lavar sempre as mãos antes de tocar no bebé e antes de preparar os seus alimentos;
- lavar escrupulosamente os seu utensílios, tais como biberons e chupetas;
- não permitir que se fume perto do bebé, preservando-o de ambientes potencialmente poluídos;
- evitar ambientes com aglomerados de pessoas;
- tentar que a temperatura dentro de casa seja amena (nem muito frio, nem muito calor) promovendo simultaneamente o seu arejamento;
- evitar que o bebé contacte com objectos, nomeadamente brinquedos que tenham sido utilizados por crianças ou adultos que estejam doentes, devendo todos os objectos do bebés serem lavados com frequência;
- evitar o desenvolvimento de lesões cutâneas;
- efectuar todas as vacinas recomendadas.

As visitas
O bebé prematuro é particularmente frágil e mais susceptível de adquirir infecções que se contagiam de pessoa para pessoa.
- Todas as visitas devem lavar devidamente as mãos antes de tocar no bebé.
- As pessoas doentes (com quadros de constipação ou de vómitos e diarreia) devem ser desencorajadas a visitar o bebé enquanto não estiverem bem.
- As visitas não devem beijar o bebé, nomeadamente nas mãos (que o bebé coloca na boca).
- O número de visitas e o tempo que permanecem com o bebé deve ser limitado.
- A necessidade de descanso da mãe deve ser respeitada, de forma a que esteja apta a cuidar do bebé e amamentá-lo.

Transporte no automóvel
Para que as viagens de automóvel sejam seguras, todas as crianças têm de ser sempre transportadas num dispositivo de retenção (“cadeirinha”) homologado e adequado à idade, estatura e peso. O aumento da utilização de “cadeirinhas” tem reduzido o número de mortes e ferimentos em crianças, o que demonstra a sua eficácia e a importância da sua utilização.
- Desde a saída da maternidade, o recém-nascido deve viajar num sistema de retenção voltado para trás. Esta é a posição mais segura para viajar nos primeiros anos, devido ao peso da cabeça e fragilidade do pescoço. Assim, a cabeça, o pescoço e a região dorsal são apoiados uniformemente, pelo que estarão melhor protegidos, em caso de acidente.
- O sistema de retenção deve ser preso ao automóvel, com o cinto de segurança ou através de um sistema Isofix, num lugar sem airbag frontal activo.

Passear com o bebé prematuro
Logo após a alta devem evitar-se os locais fechados com aglomeração de pessoas tais como lojas, centros comerciais, escolas ou igrejas.

Nascimentos de gémeos
O nascimento de gémeos implica a multiplicação de cuidados, mas também de amor e alegria.
Os primeiros tempos poderão ser difíceis para os pais; porém é necessário que mantenham a calma e estruturem um plano de cuidados organizado. Sempre que possível, peçam ajuda a familiares e amigos de modo a fazerem uma pausa, terem um momento para vós e assim recuperarem forças.
Não se esqueçam de ter um momento especial de proximidade com cada bebé todos os dias. Quando for possível, devem tentar a alternar a ordem de cuidados de forma a que cada um dos bebés possa ser o primeiro a ser cuidados em alguma altura.

Acompanhamento médico
Os bebés prematuros necessitam de maiores cuidados que aqueles que nascem de termo. Após a alta, é natural que necessitem de acompanhamento multidisciplinar em consultas de várias especialidades tais como: Neonatologia, Medicina Física e Reabilitação, Pediatria do Desenvolvimento, Oftalmologia, Otorrinolaringologia, entre outras. É de extrema importância que os pais não deixem de levar o bebé a todas as consultas que são programadas.

Idade Corrigida e Idade Real
Por ter nascido mais cedo, é natural que o vosso bebé não apresente o mesmo grau de desenvolvimento que um bebé de termo que nasceu na mesma altura, mas que tenha um desenvolvimento mais parecido ao de um bebé que tenha nascido na altura em que era suposto o vosso bebé nascer.
A Idade Real ou Idade Cronológica é o tempo de vida desde o nascimento. A Idade Corrigida é calculada a partir da altura em que era esperado que o bebé nascesse.
Assim se, por exemplo, um bebé nasceu em 1 de Março e se esperasse que apenas nascesse em 1 de Junho e hoje fosse 1 de Dezembro, o bebé teria 9 meses de Idade Real e 6 meses de Idade Corrigida.
Para efeitos de avaliação de desenvolvimento, habitualmente corrige-se a idade do bebé até aos 2-3 anos, dependendo do grau de prematuridade.
Os pais não deverão comparar o desenvolvimento do seu bebé com bebés de termo da mesma idade.

Crescimento e Desenvolvimento
A prematuridade pode condicionar o desenvolvimento do bebé. É natural que os pais se preocupem, mas não devem permitir que a ansiedade os impeçam de desfrutar ao máximo do seu bebé e de lhe dar todo o carinho.

Em termos de crescimento, os bebés prematuros, ao serem privados da fase de crescimento acelerado do 3º trimestre de gestação, são geralmente mais pequenos. Ao longo dos primeiros 2-3 anos de vida tendem a recuperar, mas poderão apenas recuperar mais tarde. Actualmente existem estudos que demonstram que um aumento de peso demasiado rápido poderá ter efeitos nefastos na saúde na idade adulta.

O nascimento prematuro do vosso filho poderá ter um efeito no seu desenvolvimento intelectual durante os primeiros 2-3 anos. Existem infelizmente outros bebés que, por terem nascido demasiado cedo ou terem sofrido complicações adicionais, sofrem de problemas a longo prazo e necessitam de apoio médico prolongado.
As sequelas neuro-sensoriais graves, como a paralisia cerebral, cegueira e surdez são habitualmente identificadas nos primeiros anos de vida e afectam sobretudo as crianças mais imaturas.
O atraso no desenvolvimento cognitivo é a perturbação mais frequente nos primeiros anos de vida. Na idade escolar predominam os problemas comportamentais e de aprendizagem. A partir da adolescência, os problemas tendem a atenuar-se, permitindo uma boa integração social na vida adulta.

É muito importante que os pais se empenhem para estimular correctamente o bebé, através das orientações dos profissionais que acompanham a criança, dando-lhe assim maiores possibilidades de ter um desenvolvimento adequado.
A Intervenção Precoce (IP) consiste num apoio integrado, centrada na criança e na família, mediante acções no âmbito da educação, da saúde e da acção social, com o objectivo de reduzir os efeitos dos factores de risco ou da deficiência no desenvolvimento da criança. A IP acelera e reforça o desenvolvimento da criança e melhora o funcionamento da família. Os seus principais objectivos incluem a melhoria dos conhecimentos e da autonomia das famílias, para poderem lidar com os problemas dos seus filhos.

É sempre difícil prever o que vai acontecer com qualquer bebé em particular e que tudo depende do grau de prematuridade, peso ao nascimento, mas também das complicações que surgiram nos primeiros meses de vida. Os grandes prematuros podem ter uma vida normal, mas necessitam de ter acompanhamento multidisciplinar para rastreio e intervenção precoce.

Sinais de alarme
- Febre: temperatura superior a 38ºC
- Recusa alimentar
- Choro fraco e gemido
- Sonolência e pouca resposta aos estímulos
- Tremores e convulsões
- Vómitos frequentes
- Urinar em menor quantidade
- Pele pálida ou cianótica (cor azulada)
Caso detecte algum destes sinais no seu bebé, deverá levá-lo de imediato ao médico assistente ou urgência de pediatria