Ir ao psicólogo?

menina de azul sentada com mãos na cabeça

Com bastante frequência, cada vez que os pais pressentem que algo vai mal com os seus filhos, em vez de tentarem compreender o que não está bem, marcam consulta para um psicólogo. A ida ao psicólogo parece assim ser, muitas vezes, uma moda. Moda esta frequentemente associada a uma desresponsabilização e desculpabilização por parte dos pais face aos problemas dos filhos, aspecto este que carece da atenção de todos nós.

Ora para se compreender, é fundamental estar presente e conhecer o outro, isso implica necessariamente tempo e disponibilidade, visto que, uma conversa, um passeio, uma discussão, são situações que envolvem tempo e dão “trabalho” ao nível do foro emocional e afectivo. Isto vem colidir com o “corre-corre” excessivo do dia a dia, em que as pessoas se encontram desligadas dos seus “sentires” e mais voltadas para o exterior, delegando prioridades essencialmente nos aspectos laborais e materiais. A maioria dos pais refere ter vidas muito ocupadas perante as exigências que a vida actual nos coloca quer a nível profissional, quer social, deixando pouco tempo para outros aspectos tão ou mais importantes.

Contudo, não se culpabilize por não ter mais tempo do que gostaria para estar com os seus filhos, pois mais importante do que ter bastante tempo, será o tempo de qualidade que passa com eles. Se, efectivamente, passar menos tempo que o desejado mas se esse tempo for vivido com verdadeira partilha e envolvência, o seu filho sentir-se-á ouvido, acarinhado, fazendo significativa diferença.

Sem dúvida que, por vezes, um estado de grande tensão e já de algum desespero está subjacente a esta atitude de procurar um psicólogo, sendo inclusive verbalizado pelos pais: “Veja se faz alguma coisa dele, se o “trata”, pois nós já não o conseguimos aguentar".

Associada a esta afirmação, vem a ideia de que o filho será o único envolvido no processo terapêutico. Na verdade, quando os adultos levam a criança a um psicólogo quem vai falar das dificuldades e vai ser aconselhado é maioritariamente o adulto. O adulto (educador) é que terá de assumir o papel principal, mesmo quando o que ele preferia era ser apenas figurante.

Geralmente, a insegurança vem relacionada a este papel, sendo o factor que estimula a procura de apoio psicológico. Pais demasiado ansiosos pressupõem que, por agirem desta ou daquela forma irão traumatizar os filhos, procuram então os psicólogos para saber como “se deve” agir em determinada situação, face ao seu receio em falhar. Muitas vezes, uma ajuda técnica especializada ajuda de facto e contribui no sentido de restituir aos pais a consciência da sua responsabilidade, relembrando aquilo que os pais já sabem e restaurando a respectiva confiança necessária para desempenhar esse papel.

Ou seja, importa ressalvar que, deverá sim, recorrer a um psicólogo sempre que sinta essa necessidade, contudo sem esquecer que, o papel do técnico é o de facilitador, orientador e que, complementarmente, o seu papel enquanto pai ou mãe será sempre o mais importante e por isso mesmo insubstituível. Com bastante frequência, ao recorrer a essa ajuda especializada, muitos pais esperam que as coisas se resolvam magicamente, trazendo expectativas demasiado elevadas e pretendendo resultados superfluamente rápidos. Ora, em todas as situações que envolvem pessoas, é sabido que não existem receitas nem raciocínios matemáticos directamente pautados pela lógica, é por isso necessário saber ouvir empaticamente a individualidade da pessoa em causa, devidamente contextualizada na sua própria dinâmica familiar, dando-lhe tempo e espaço de modo a que a pessoa em questão respeite o seu próprio ritmo.

Saber se determinada situação será normal ou patológica depende muito do contexto e das pessoas envolvidas, pois o que num determinado âmbito poderá ser normal e funcional, noutro poderá já não o ser. Não sendo por isso fácil responder directamente a essa questão, sendo nomeadamente bastante relativa a sua conclusão. Cada situação em concreto deverá ser analisada pontualmente, considerando especificamente todos os seus intervenientes, a fim de se chegar a uma coerente avaliação.

Exemplos elucidativos que poderão dar-nos uma orientação da necessidade de apoio psicológico:
- Sinais de tristeza/isolamento/depressão.
- Mudanças bruscas de comportamento. Por exemplo, ele (a) era muito alegre e agora começa a chorar frequentemente, sem que para tal exista uma justificação aparente. Poderá ser importante pedir ajuda.
- Existência de um comportamento disfuncional, num dos contextos onde a criança/jovem se movimenta. Se em casa ela (e) está bem, mas na escola tem uma ansiedade intensa, afectando o seu desempenho escolar e as suas relações interpessoais, a ajuda de um especialista poderá ser necessária.
- Sentimento de inquietação permanente e falta de estratégias para lidar com uma determinada situação, mesmo quando todos que o rodeiam afirmam que a situação é normal.
- A existência de comportamentos desviantes, como eventualmente, a agressividade ou o consumo de substâncias ilícitas ou mesmo perturbações do foro alimentar.
- Redução significativa da qualidade de vida, devido à incapacidade para lidar com as características pessoais, situações e opções de vida.
- Avaliação Psicológica
- Orientação Vocacional/ Profissional.
- Sobretudo, se já usou diferentes estratégias e não foi capaz de solucionar esse problema que tanto o inquieta, então não hesite, procure mesmo ajuda.