Mãe, posso sair à noite?

senhora com relógio de mesa na mão e uma menina

Cada vez mais cedo os jovens iniciam a sua vida social nocturna com as primeiras saídas à noite para bares e discotecas, quer seja em aniversários, eventos especiais ou simplesmente por rotina. Se nos anos 80 e 90 estas saídas iniciavam-se mais tardiamente, o fenómeno ocorre de uma forma cada vez mais precoce. Dependendo também da zona geográfica essa precocidade pode ser ainda maior.

Quando chega a esta fase a insistência dos jovens aumenta, e aumenta também a preocupação dos pais. Deixar sair ou não…se sim com que regras? O que é razoável nos dias que correm para quem não se perca o controlo na totalidade mas também não se prejudique o desenvolvimento social dos adolescentes, tão importante nas suas vidas actuais e futuras.

A primeira e das mais importantes questões…manter o bom senso. Não vale a pena pensar-se que se vai controlar todo o processo e tudo o que será feito nestas saídas. É impossível. Um jovem que queira fazer “asneiras”, grandes ou pequenas, irá fazê-las, por isso importante é que haja todo um trabalho realizado ao nível da confiança até aquele momento. Que haja abertura para se falar sobre as coisas sem demasiados juízos de valor e “sermões”. A adolescência é um processo cada vez mais diferente daquele que os actuais pais passaram e as comparações não só não se devem fazer como poderão mesmo contribuir para um sentimento de incompreensão por parte dos jovens. Para eles o que estão a sentir e a experienciar é único e não deve ser alvo de comparações, pelo menos explícitas.

Outra questão que se coloca sempre é o quando? Em que idade permitir as primeiras saídas à noite. Os especialistas apontam cada vez mais para os 14 anos, sendo que depende muito do desenvolvimento e maturidade de cada adolescente. E consoante cada situação um conjunto de regras e procedimentos deve ser desenvolvido com o jovem.

Até que horas se deve permitir a saída? Esta é outra questão que é regularmente feita. Novamente depende muito de factores como o local e a maturidade do jovem. Se vai acompanhado pelo irmão ou por o pai de um amigo. Mas seja como for a hora deve ser definida de uma forma clara e deve ser negociada com o jovem. Não vale a pena colocar a hora de chegada à meia-noite quando a festa começa supostamente as 23h porque sabemos que essa hora dificilmente será cumprida. Por isso deverá haver bom senso. Também é essencial determinar-se como é que o jovem regressa a casa de uma forma clara. Se vai de táxi, se volta com a pessoa X. Nunca determinar regras pela negativa, do género “não vens com o Manuel”. Isto reforça apenas o comportamento que não se deseja, deixando margem para demasiadas dúvidas e alternativas. Recomenda-se também que saídas à noite para os mais jovens seja feita com os pais a irem buscá-los ao local, ou que se juntem vários pais do grupo de amigos e que se revezem nesta tarefa. Assim também se sabe com quem os nossos filhos estão e estiveram.

É essencial que haja consequências e que elas sejam acordadas previamente. Não cumpre a hora de chegar, ingeriu bebidas alcoólicas quando tinha sido acordado que tal não aconteceria, então deverá haver uma consequência que pode passar por não sair no fim-de-semana seguinte. Não determinem consequências intemporais ou irrealizáveis. Pior do que ausência de consequência é uma consequência que não se realiza. Nunca ameaçar sem cumprir. Importantíssimo em situações de pais separados que os dois estejam em acordo com o conjunto de regras e que sejam aplicadas de igual forma.

É importante também que se saiba, dentro de um limite razoável, com quem o jovem vai sair e ter o contacto de um ou dois desses amigos, para que se possa contactar numa eventualidade. Nunca para contacto frequente ou para medidas de controlo.

Sobretudo é preciso entender que o sair à noite é um teste à confiança que os pais depositam no jovem e à maturidade que o mesmo possui nesta fase. Deverá ser encarado como um processo normal e até útil no desenvolvimento do adolescente. Retirar-lhe esta fase ou retardá-la demasiado poderá ter consequências complicadas ao nível da sua socialização e autonomização, antecipar demasiado também poderá ter o perigo de expô-lo demasiado cedo a situações para o qual poderá não estar preparado.

Importante é pensar que deverá haver diálogo, confiança e respeito no seio da família, para que não haja assuntos tabu nem necessidade de esconder o que deve ser conversado, de uma forma aberta e responsável.

Mónica Mexia (psicóloga clínica), 2013