Educação Sexual na Infância

duas fotografias meninos abraçados

Todos nós somos seres sexuados, independentemente da nossa idade, crença, estado de saúde ou condição social. O reconhecimento de que a sexualidade é uma dimensão inerente à existência humana continua a ser consciente ou inconscientemente negado, ocultado ou ignorado por muitos de nós, educadores, que optamos muitas vezes por esconder, negar ou ridicularizar a sua existência na esperança de que os nossos educandos não nos coloquem em situações ou dirijam perguntas que nos façam corar. Sabemos no entanto que todos os pais, mães ou outros adultos com responsabilidade parental desejam que os seus filhos e filhas sejam pessoas realizadas na sua vida pessoal, social e profissional, sabemos também que participar activamente no crescimento e educação de uma criança é provavelmente a tarefa mais desafiante e gratificante que a vida adulta nos reserva. Porquê então resolver com silêncios ou fugas estratégicas momentos que podiam ser de aprendizagens mútuas riquíssimas ao nível das relações, do respeito, do corpo, da saúde, do viver, do sentir…

A sexualidade acompanha-nos durante toda a nossa vida, influenciando pensamentos, atitudes e comportamentos, não existindo portanto uma idade para o seu inicio, nem tão pouco para o seu fim. A Educação Sexual é portanto, parte do processo educativo da criança a partir do seu nascimento, e faz-se no dia-a-dia, no toque, nas carícias, no olhar, no tipo de comunicação ou padrão relacional, nos valores transmitidos, verbalizados ou não, nas respostas, e nos silêncios. Embora difusa, ao longo da infância e até à puberdade, a nossa sexualidade é uma energia sempre presente, cuja evolução depende fundamentalmente da forma como são vivenciadas as imposições sociais de que somos alvo, como o ciúme, as respostas dadas às perguntas e comportamentos de descoberta, e o entendimento dos papéis masculinos e femininos, face aos modelos de que dispomos. Os primeiros anos após a entrada no 1º ciclo são marcados pelo contacto com diferentes realidades, organizações familiares, culturas, experiencias de vida, formas de entendimento, mas também por algo tão importante para a evolução da sexualidade como a interiorização do conceito de privacidade e da moral sexual. Entre os 5 e os 7 anos, a criança começa a demonstrar esforços para controlar os seus comportamentos no sentido desejado pelos adultos, procurando cumprir pelo medo do castigo. A partir daqui, o seu comportamento vai ser regulado, já não apenas pelo medo do castigo mas também pelo sentimento de culpa que desperta, que decorre das normas impostas (reforçadas por recompensas ou punições) mas também da observação das suas figuras de referência.

A família é o primeiro agente de educação da criança exercendo sobre ela uma inquestionável influencia na construção do seu eu, dos seus valores, das suas atitudes, pensamentos, emoções e comportamentos. A qualidade das primeiras relações estabelecidas com o pai e a mãe (biológicos ou afectivos), outros familiares e restantes figuras de apego, interfere grandemente no desenvolvimento global da criança e evidenciar-se-á ao longo da sua vida no grau de confiança em si próprio e nos outros, nas atitudes de aceitação ou rejeição face ao corpo, e na expressão saudável ou desajustada dos afectos e emoções. É por isso fundamental, no nosso dia-a-dia de educadores, termos sempre presente que a sexualidade é algo positivo, que envolve sentimentos, emoções, comunicação, afectos, desejo, prazer e ética e que para a vivermos de uma forma mais plena devemos aprender a dizer sim a comportamentos desejados, não aos indesejados, dispor de informação adequada e de meios para prevenir problemas que lhe podem surgir associados. As respostas às questões que as crianças colocam devem pois ser respondidas sempre com a verdade. Aproveitar momentos de educação, supervisionar e comunicar acerca das informações disponibilizadas através de outros meios (tv, net) e demonstrar disponibilidade para conversar, responder e principalmente ouvir, são atitudes que devem pautar a acção dos educadores no que diz respeito à Educação Sexual das crianças, possibilitando assim que elas cresçam saudáveis, confiantes e felizes.

Fonte

Joana Sousa (ex-Coordenadora APF – Algarve)