A verdade como exemplo

menina tem maos na boca

Pais que mentem ensinam os filhos a mentir, uma vez que as crianças aprendem por modelagem e os primeiros modelos são efectivamente os pais.

Ainda que a intenção possa ser boa e o objectivo seja o de proteger as crianças das tragédias dos mais crescidos, as consequências da mentira são inequivocamente nefastas, sendo as razões variadas.

As crianças são bem mais perspicazes do que aquilo que muitos adultos imaginam e sendo dotadas de sensores, captam as emoções dos outros de uma forma admirável. A criança percebe claramente a incoerência entre aquilo que dizemos e aquilo que sentimos, pois possui uma inteligência emocional mais precoce que a inteligência puramente lógica, percebendo assim que efectivamente algo não está bem, acabando por ficar confusa.

Quando as crianças descobrem a verdade, sentem-se enganadas, sentindo no futuro, dificuldade em confiar em alguém, abalando nomeadamente a confiança e a credibilidade que estas depositam nos pais.

O silêncio também não é recomendável nem opção, considerando que este frequentemente transmite informações erradas às crianças, visto estas perceberem, sobretudo se forem muito pequenas, que talvez o que se esteja a passar de errado se deva a elas próprias, o que gera uma grande angústia e ansiedade nas mesmas.

Se o problema afecta toda a família, o melhor então, será partilhá-lo. Nesta partilha deve predominar o bom senso, ou seja, a mensagem deve ser adequada à idade da criança e as emoções, embora não devam ser ocultadas, devem ser transmitidas com peso e medida, de forma a não ferir o universo naturalmente frágil da criança. Obviamente que, cada família, com as suas próprias especificidades, é que terá de encontrar a melhor forma de transmitir a informação difícil e mais adequada aos seus filhos.

A dor da perda é inevitável, assim no caso de uma criança se deparar com ela, por mais difícil que possa ser, será necessário vivenciar o processo da forma possível, de acordo com a natureza e a idade da criança, superando a dureza da doença e da perda, se for esse o caso e sem mentiras pois será importante viver o processo e integrar bem a tristeza subjacente ao sofrimento, de modo a dar lugar e a fazer nascer a serenidade, transformando a criança em alguém confiante e maduro, que enfrenta a vida de uma forma alegre e descontraída.

Podemos assim concluir que efectivamente não existem mentiras boas e más, uma vez que o resultado final será sempre o mesmo: a criança ficará magoada e a confiança relativamente aos pais será afectada.

 

Fonte

Helena Coelho
Psicóloga Clínica